UM FILME:
Marcelo Masagão: direção.
Wilm Mertens: música original.
André Abujamra: sound designer e música complementar.
Brasil, 2003.
Wilm Mertens: música original.
André Abujamra: sound designer e música complementar.
Brasil, 2003.
"Estranho",
"Diferente", "Entediante", "Falso". Pelas
críticas não se trata de um filme comum. "1,99 - Um Supermercado Que Vende
Palavras" de Marcelo Masagão consegue transformar em narrativa visual os
abstratos mecanismos do fetichismo das marcas e do consumo. Dessa forma,o
diretor evita cair no lugar-comum das críticas à sociedade de consumo.
Fazer uma crítica à sociedade de consumo
já se tornou um lugar-comum, principalmente porque ela acaba vítima de duas
armadilhas: primeiro a da análise moralista com a visão de que no consumo “o ter
substitui o ser” ao induzir as pessoas ao “consumismo” de “bens supérfluos”. E,
segundo, a de reduzir o consumo à sua superficialidade, isto é, ao mero ato de aquisição de bens materiais. Ambas as críticas
acabam convergindo para a solução reformista: se o consumo é uma questão de
excesso e de superfluidade, então devemos professar o “consumo consciente”.
Porém, nesse filme o diretor consegue
driblar essas armadilhas de análise ao propor uma visão mais radical sobre a
sociedade de consumo: o seu problema não é que as pessoas sejam definidas pelo
que elas têm, mas que suas identidades sejam construídas a partir do que
desejam, idealizam e sonham traduzido por marcas e mercadorias. Pouco importa
se de fato as pessoas comprem. O consumo já está muito além disso, está no
campo psíquico do desejo, da intenção, da fantasia, em outras palavras, do
fetiche.
"1,99"
é um filme que usa muito o artifício da
simbologia, o tom branco permeia todo o filme, remetendo ao simbolismo
literário. Ou seja, nada do que é mostrado é óbvio ou fácil de ser compreendido. O filme não possui uma trama linear e trabalha conceitos sobre o comportamento do
homem contemporâneo. O clima de estranheza do supermercado é permanente, num contraste com a leveza e
suavidade com a qual a câmera passeia durante o filme. Outro ponto que vale
ressaltar é a completa ausência de emoções por parte das pessoas que estão no
supermercado. Com ausência de diálogos, consegue transmitir mensagens
reflexivas instigando a capacidade analítica do expectador.
Os personagens humanos são
coadjuvantes dando espaço aos protagonistas principais que são o desejo, a
angústia e a compulsão por comprar. O mundo exterior só aparece mediado por
máquinas como computadores, câmeras e telefones.
Um supermercado onde o que está a venda , em tons absolutamente brancos, são conceitos e idéias como amor, sucesso e família, por meio de slogans normalmente explorados pelo império nocivo das marcas, “seja você mesmo”, “você é único”, “você conhece, você confia” etc. Exploram-se assim a falência dos valores sociais, ressaltando a individualidade e o autodesejo intrínseco comum ao ato da compra.
Um supermercado onde o que está a venda , em tons absolutamente brancos, são conceitos e idéias como amor, sucesso e família, por meio de slogans normalmente explorados pelo império nocivo das marcas, “seja você mesmo”, “você é único”, “você conhece, você confia” etc. Exploram-se assim a falência dos valores sociais, ressaltando a individualidade e o autodesejo intrínseco comum ao ato da compra.
Fica
a dica!